O papel dos filhos na relação amorosa // La place des enfants dans le couple

Em vários dos filmes dessa sessão, a narrativa gira em torno de um casal em crise e, nesses momentos, não raro a figura dos filhos ocupa um papel importante. Em "Manuale d'amore", a personagem que é traída por seu marido, quando decide se separar dele, é confrontada com a seguinte questão por parte de um amigo: "E os seus filhos?", ao que ela responde "Eles continuarão a ter um pai, mas apenas uma mãe". Essa cena me fez pensar em um certo lugar-comum da nossa cultura, segundo o qual é melhor que o casal não se separe - mesmo que haja conflitos irreconciliáveis -, devido aos efeitos negativos que esse "desmembramento" da família poderia causar nos filhos. Nesse sentido, algumas pessoas se sentem obrigadas a permanecerem em relacionamentos deteriorados devido à presença de filhos, principalmente se eles são muito novos.

No filme "Pequeno dicionário amoroso", por outro lado, a personagem Luísa cogita ter um filho com Gabriel para salvar seu relacionamento. Assim, o filho é retratado como um potencial reavivador de um amor que começa a se apagar. É interessante notar que, em ambos esses casos, é a relação da mulher com os filhos que é ressaltada. Assim, no caso de "Manuale d'amore", é apenas a mulher que é cobrada no que diz respeito à reação dos filhos ao divórcio (sendo que a atitude do pai - trair - é a que efetivamente deve ser questionada); e, em "Pequeno dicionário amoroso", retrata-se o clichê da mulher desesperada pela maternidade, que pretende usar a gravidez como pretexto para manter a sua relação.

Acredito que esse tema também esteja presente em outros filmes da sessão (penso no casal de "Un novio para mi mujer") e gostaria de abrir o debate para pensarmos as diferentes formas que isso é abordado e de que modo essas representações remetem a uma certa concepção de mundo machista e patriarcal.

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Dans de nombreux films de cette session, la narrative est concentrée sur un couple en crise et, dans ces moments, la figure des enfants surgit assez fréquemment. Dans "Manuale d'amore", quand le personnage de la femme trahie décide de quitter son mari, un ami lui demande "Et les enfants? Ils ont besoin d'un père", ce à quoi elle répond "Oui, mais d'une seule mère". Cette scène m'a fait penser à une idée reçue assez répandue dans notre société, selon laquelle il serait mieux que le couple reste ensemble (malgré de graves conflits), parce que la séparation pourrait nuire aux enfants. De cette manière, on se sent obligé à se maintenir dans des relations déchirées à cause des enfants, surtout quand ils sont plus petits.

D'un autre côté, dans le film "Pequeno dicionário amoroso”, Luísa veut avoir un enfant avec Gabriel pour sauver leur couple. Ainsi, l’enfant est représenté comme un potentiel sauveur de la relation amoureuse qui commence à entrer en crise. C’est intéressant aussi de souligner que, dans les deux cas, c’est le rapport de la femme aux enfants qui est représenté. D'ailleurs, dans le cas de “Manuale d’amore”, on ne reproche qu’à la femme de ne pas penser à ses enfants, alors que clairement l’action du mari a été beaucoup plus nuisible pour le couple. Dans “Pequeno dicionário amoroso”, le cliché de la femme qui veut un enfant désespérément  (et qui prétend l’utiliser comme prétexte pour que son mari ne la quitte pas) est renforcé.

Je crois que cette thématique est présente dans encore d’autres films de la session (notamment dans “Un novio para mi mujer”) et je voudrais ouvrir le débat pour qu’on puisse penser les différentes façons dont cela est abordé et de quelle façon ces représentations se placent dans une vision patriarcale du couple et de la famille.